Feliz Ano Novo, China!
Hoje, saí para passear com meus velhinhos, que
carinhosamente chamo de papai e mamãe. Coloquei a saca de lixo reciclado na
calçada, parei na faixa de pedestres, dei “bom dia” ao porteiro do prédio,
falei poucas palavras. Li meus emails e tive notícias de pessoas que gosto.
Sorri para a linda manhã de sol da serra.
Passei pela praça e cumprimentei o China, antigo garçom
de uma cantina que frequentava na década de 90 e que hoje mora na(s) rua(s).
Prometi lhe pagar o almoço de hoje, coisa que faço esporadicamente. Batemos um pequeno papo. Seu cheiro me
impediu de lhe dar um abraço, a crosta negra de fuligem em seus dedos não me impediu
de apertar-lhe as mãos... Relembramos dos
tempos que o China, ou melhor, José Nilson da Silva (55) era o melhor garçom da
Cantina Bom Giovanni, num sobrado da Rua do Imperador. Barba, cabelo e impecáveis.
Camisa branca engomada e calça de tergal preta com vinco. Personalidade, simpatia
e firmeza no atendimento. Tinha o cardápio na cabeça. Já trazia à minha mesa a Bohemia
e o frango ao alho e óleo, sem que eu fizesse o pedido. Ganhava gorjetas, elogios,
era admirado... era “o garçom”. Orgulhava-se
de sua origem, e contava a todos que era descendente de mineiros, mais
precisamente da comarca de Governador Valadares.
Vinte e cinco anos depois, a ampulheta da vida o
transformou num maltrapilho, num farrapo humano, num decrépito ser, morador de
rua, (in)digno(?) que está agora adornando a praça, em companhia de pombos e
cães, seus atuais entes. Onde estará sua casta que um dia, o chamou de pai,
esposa, irmão ou tio? No inóspito calabouço de uma masmorra épica? Num shopping
da cidade, se atropelando com as compras de fim de ano? Ou sentada ao nosso
lado, lendo uma maganize?
“Jesus
continua sendo minha alegria, O conforto e a seiva do meu coração, Jesus
refreia a minha tristeza, Ele é a força da minha vida, É o deleite e o sol dos
meus olhos, O tesouro e a grande felicidade da minha alma, Por isso, eu não
deixarei ir Jesus, Do meu coração e da minha presença.” - Johann Sebastian Bach
Jesus é a alegria dos homens, e sempre O será. Também das
crianças, dos animais, da natureza, do sol, da lua e das praças. Jesus é também
a alegria do China. Um fraterno Ano Novo, amigo China!
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